À Vida

Por quanto tempo tenho procurado alguém que me fizesse sentir ao peito a real brandura de um sentimento amoroso, que talvez seja a mais sincera nobreza de uma alma. Mas enquanto procurava, já demasiadamente extenuado de tal tarefa, segui, então, por puro oportunismo, ao encalço de outros sonhos, quiçá, menos nobres, alegando, assim, a minha impotecialidade humana por ser comumente similar àqueles que se dão por vencidos ao mínimo temor da vida.

Contudo, ao deparar-me com as gratas conquistas que ela em suma me ofertou, notei que estavam intrinsecamente ligadas, pois a vida é uma incomensurável partilha, não se pode almejar venturas sem antes visar aqueles com que há de partilhá-las, pois a vida é um milagre muito fabuloso para se gastar consigo mesmo.

E quando alguém cruza nosso caminho e faz de nossa imagem um espelho para si, convencemo-nos de que somos indivíduos dotados de razões e de incertezas e que estas incertezas nada mais são do que um instinto de cautela de onde se moldam as nossas indagações em busca de uma elevação inconsciente da qual todos nós nos submetemos.

Hoje, não mais me estagno na angústia do medo, antes dou meu peito a ralar na dor das consequências sem covardemente visar o grau de minhas possíveis derrotas, visto que o tempo é precioso demais para que nos demos ao luxo de pesá-las como se nos coubesse tomar aos anos uma única posição frente à vida, quando sabemos que cada segundo, ela arbitrariamente nos exige uma escolha para que não nos esquivemos de sua trajetória e nos deparemos com uma velhice mórbida e vazia onde as amargas convicções se tornarão o único e maldito legado de nossa infeliz consciência.

( Queiroz Filho )

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