Momentos

Há momentos em minha vida
em que não quero estar só,
Mas todo o instante em que me olho à fundo
dentro de mim e ao meu redor, estou!
Quisera crer na vida, nos homens e na pureza
dos pequenos.

Mas não sou forte, não existo em mim
para ter ideia do que são os outros por dentro
e nas coisas em que deveria crer.
Como poderia, se eu nem me reconheço?
Se vivo do lado de fora de mim?
Sou rude e vulnerável como a noite...
Nada em minha alma falta ou excede,
Sou eu que sou miúdo demais para ela -
Uma veste interna onde sobram as mangas...
Dentro dela eu sou uma frágil nau, atenta à navegar,
Ou uma lebre a correr aturdidamente
dos vendavais que lhe persegue,
( ao menos isto me resta)
Ela sobra em mim, e eu, constantemente
falto à ela...

Por isso não amo aos outros quão deveria,
Por isso não me amo quão preferiria,
E o que está sempre comigo, algemado à minha angústia
é este silencio morno que me salta às costas!
Que dialoga com os meus sentidos...
Ah, como é maravilhoso e trágico ouvir o silencio!
Ele sim, é uma afável companhia,
Pois se abre e se fecha em nós como uma porta,
(Ou será que nós é quem somos a sua porta?...)
não me murmura conceitos,
não me estabelece regras,
não me rejeita a tristeza
e nem me beija com seus lábios impalpáveis!
( por mais que eu quisesse).
O silencio é a veste negra que recobre o amor
E os amantes – tolos! Não percebem que todo o amor
apenas carece do silencio dos olhos e da verdade que há neles.

Eu, quando amei, fui um tolo,
bradava essa alegria em meio aos pulos pelas ruas ermas
e ninguém, ninguém me ouvia, senão, os ouvidos feridos
do sapientíssimo silencio.
Que severamente, me dizia :
Esqueças os outros, esqueças o mundo!
eu que sou a tua externa consciência,
eu sou, oh! Iludível tolo,
o amor de todos os homens!...


19-04-11

(Queiroz Filho)

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